Beira quase o impossível começar a comentar sobre a liderança de Jesus e de Paulo sem se atentar a questionamentos que fazermos no que tange a ‘liderança’. A pergunta que tende a vir na nossa mente é: todos são líderes ou somente alguns nasceram para liderar? Por vezes é difícil desvencilhar a imagem dos liderados como pessoas inferiores e o líder como um ser superior, dotado de capacidade especial, que desfruta de privilégios e benefícios quase inalcançáveis por seus liderados.
Esse ‘modelo’ de liderança baseado no domínio, controle e opressão do homem sobre outro homem foi fortemente rebatido por Jesus em suas palavras. Muitos vêem Jesus como o líder mais influente da história, e de fato Ele é. Porém, Ele é muito mais do que isso. Ele é o Filho de Deus que veio revelar e restabelecer na terra o governo de Deus conforme o seu propósito original. A verdadeira liderança alcança o natural, mas os seus princípios são espirituais.
Jesus deixou claro a vontade de Deus em Mateus 20.25-20: "Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos."
No princípio, Deus criou o homem para se relacionar com Ele e com o restante da criação de forma plena (Gênesis 1 e 2). Deus serviu o homem de si mesmo ao criá-lo a Sua imagem e semelhança. Isso implica que o modelo e o critério da criação do homem foi o próprio Deus e aquele agiria à semelhança do seu Criador. A capacidade de dominar dada ao homem é algo inerente ao próprio Deus (Gênesis 1.26) e se estende ao que foi criado, com exceção do próprio homem. Da mesma forma, Deus não criou o homem para dominá-lo, no sentido de manipular segundo os seus interesses, mas o deixou livre para ser com Ele co-criador e fazer as escolhas individualmente.
Com o pecado veio a morte espiritual do homem e sua separação de Deus e, conseqüentemente, a perda gradativa dos valores divinos no seu interior. O homem passou a estabelecer uma relação de domínio e poder (Gênesis 3.16). A morte e ressurreição de Jesus e posteriormente o envio do Espírito Santo para habitar ‘naqueles’ que crêem em sua obra salvadora, trouxe novamente o domínio e o governo de Deus ao coração do homem, que pode seguir a vontade e os princípios do próprio Deus para se relacionar com Ele e com o outro.
Embora tenhamos o potencial para liderar, o fato é que precisamos ser aperfeiçoados à luz da Palavra de Deus sob a direção do Espírito Santo. Jesus, mesmo sendo Deus, em sua humanidade precisou seguir todo um processo para se tornar o Autor e Consumador da nossa fé (Hebreus 12.2). Temos que ter uma compreensão clara de que liderança não está associada diretamente a um cargo, mas a influência que uma pessoa exerce sobre a outra, tanto no modo de pensar e agir. Jesus foi além ao revelar-se como o filho de Deus, o rei tão esperado pelos judeus, sem a segurança de um cargo político, das riquezas, das letras e do apelo popular, e mesmo assim influenciou e influencia toda uma geração. Filhos de Deus são gerados em Jesus (João 1.12) e discípulos são feitos até hoje e será assim até a volta de Cristo (Mateus 28.29).
A segurança de Jesus estava em ser quem ele era e é e ter a convicção disso. A identidade de Jesus estava no Pai e a do Pai nele e foi afirmada após o batismo nas águas e o início de sua missão. "E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mateus 3.17). Trazendo para a nossa realidade, influenciar está diretamente ligada a minha identidade, em saber quem eu sou em Deus, qual o meu propósito. Jesus, ao vir a terra, mesmo sendo Deus, esvaziou-se de si para assumir a forma de servo, homem (Filipenses 2.7).
Um dos maiores questionamentos das pessoas chamadas para levar adiante um propósito divino está relacionado à identidade. Escolhidos por Deus questionaram a si mesmo, o próprio potencial, e se viram inferiores ao chamado. Sentiram-se inseguros, insignificantes, despreparados ao olharem para si e para as condições externas. Foi assim com Moisés, Saul, Gideão, Salomão, Jeremias e outros líderes. Deus foi a resposta para todas as limitações do homem.
Algumas vezes olhamos para as pessoas e pelas suas próprias habilidades declaramos que ela já é um líder nato. Outras vezes olhamos e aparentemente não vemos nada que seja atrativo. Em outro momento, a própria pessoa não se vê como capaz de ser um instrumento para conduzir outras pessoas a um objetivo. A Palavra diz que Deus não vê como o homem vê, porque Deus não vê o que é exterior, mas o coração (Samuel 16.7) e que Ele ‘escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são’ (1 Coríntios 1.27-29).
Quem era Jesus e Paulo?
Jesus veio ao mundo como o cumprimento de profecias (Mateus 1.21-23). É um nome judaico comum entre os homens, porém com um forte significado ‘Ele deverá salvar’, a transliteração grega do hebraico Yeshua, que é a forma abreviada de Yehoshua (Josué), ‘Javé é a salvação’ (Dicionário Strong 2424). Dado por Deus a Maria, por intermédio de um anjo (Lucas 1.31), o nome Jesus ao mesmo tempo que identifica-se com a humanidade, projeta a vontade de Deus aos homens de salvação (João 12.47). Deus fez desse nome, um nome sobre todos os nomes (Filipenses 2.9).
Também não havia nele atributos externos que eram atrativos (Isaías 53:3). Para os líderes religiosos, Jesus era o filho do carpinteiro. "Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?" (Mateus 13.55). Para uns Jesus era Elias, para outros João Batista, outros pensavam até mesmo ser Ele Jeremias ou algum dos profetas. Contudo, quando pediu a seus discípulos que respondessem quem era, ouviu de Pedro a seguinte declaração: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’ (Mateus 16.13-17). Nesse instante Deus revelou ao seu discípulo a identidade espiritual de Jesus como o Ungido de Deus, o Messias.
Antes de ter o nome mudado para Paulo, os seus pais colocaram o nome de Saulo, inspirado no rei Saul, que significa ‘Pedido a Deus’. A Bíblia descreve Saul como um homem muito belo e alto “desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo” (1 Samuel 9.2). Os pais projetavam em Saul a imagem de Saulo, e, em contrapartida, esse veio a exceder, não na altura, mas no judaísmo a muitos da sua idade (Gálatas 1.14). Saulo trazia em seu nome a identidade e a missão de ser grande devido ao elevado nível de conhecimento e por lançar na prisão cristãos. Assim sucedeu até ter um encontro com Jesus no caminho de Damasco, onde iniciou uma virada em sua vida.
Saulo era natural de Tarso, capital da Cilícia (Atos 21.39), cidade rica e altamente culta. Era fariseu (seita política religiosa mais estreita e zelosa da lei de Israel) por vínculo familiar (Atos 23.6) e herdou o título de cidadão romano do pai. Ele cresceu na cúpula da administração judaica, chegando ao Sinédrio. Paulo fez ‘seminário’ com Gamaliel (Atos 22.3). Pelo seu zelo à lei, tornou-se perseguidor dos cristãos.
A Bíblia não relata o momento exato no qual o nome de Saulo foi mudado para Paulo, mas todos esses fatos que davam motivos para Paulo gloriar-se em si mesmo, considerou perda por causa de Cristo (Filipenses 3.4-7). O encontro real com Deus resultou não somente a Saulo mas a outros a troca do nome, para que na nova missão representasse quem ele de fato é, como Deus o via. Foi assim com Jacó (Usurpador) que passou a se chamar Israel (nome que representa uma nação); Abrão (Pai Exaltado) passou a ser Abraão (Pai de Multidões) e Sarai (Contenciosa) chamou-se Sara (Princesa).
A identidade do Pai Celestial foi impressa em Saulo que teve o nome mudado para Paulo, que quer dizer ‘Pequeno’. Ele mesmo declarou: "Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus." (I Coríntios 15.9). Fortes foram as palavras do Senhor ao seu respeito, como Ele o via: “este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel” (Atos 9:15).
Tanto Jesus como Paulo influenciaram o mundo de acordo com a identidade e o propósito de Deus gerado neles.
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